quarta-feira, 1 de outubro de 2008


MAIO: A ILHA PERDIDA E ISOLADA DE PESSOAS SOFRIDAS E MALTRATADAS.

Maio, tão perto da capital do país e, ao mesmo tempo, tão longe. Uma viagem de avião para o Maio demora menos de 10 minutos, de barco, perto de 2 horas. Da ilha de Santiago avista-se a belíssima ilha do Maio. Ilha que todos afirmam ter um potencial turístico enorme. Ninguém dúvida disso, ninguém coloca em causa a sua beleza ímpar. Contudo, parece que ninguém está interessado em ter a ilha do Maio como um destino turístico. Como é possível potenciar o investimento na ilha e o seu desenvolvimento, sem acessos? Como é possível abastecer um mercado, se a ligação marítima é feita quinzenalmente ou até mensalmente? Farinha, carne, leite, café, são bens essenciais escassos (quase inexistentes) na ilha. A condição de vida da população maiense é drástica e viola o princípio da dignidade da pessoa humana.

Depois de tanto tempo sem aeroporto, este reabriu e deixámos de ter barco. Ir ao Maio de avião custa 6.600$00, um bilhete de ida e volta custa 10.600$00. Poucos são os que podem pagar tal quantia por uma viagem que dura apenas 10 minutos. Não acredito que exista alguém no mundo que pague semelhante preço por uma viagem de 600 segundos. Ir ao Maio de avião custa 11 escudos por segundo, 660 escudos por minuto. Eu posso dar-me a esse luxo, mas a maioria da população maiense não pode. A solução passa então por viajar de barco. Mas, deste, nem sinal. Para quem só tem possibilidade de utilizar este meio de transporte, acredito que seja mais fácil ir à Lua do que ir ao Maio. Nestas condições, parece mais fácil fazer da Lua um destino turístico do que ter o Maio entre as ilhas mais procuradas de Cabo Verde. Do que me serve ter uma ilha linda, recheada de belas praias, se não tenho acesso às mesmas? Será que alguém acredita que é possível ir ao Maio a nado e, por isso, acha desnecessárias as ligações marítimas? Temos cada mente brilhante, que não duvido de mais nada!

Hoje acordei bem cedo para trabalhar e telefonei aos meus sobrinhos que, supostamente, deveriam ter viajado ontem, às duas da madrugada, para Praia. Faço um parênteses para agradecer o carinho da população maiense durante esta semana difícil. A “partida” tão inesperada da irmã, mãe, mulher e tia, foi muito dolorosa. Joaninha, espero que encontres no céu, a paz que não encontraste nesta vida. Voltando ao assunto... São 9h da manhã. A esta hora, os meus sobrinhos e todos quantos pretendiam viajar de madrugada para a Praia, ainda se encontram no Maio. Pior, foram obrigados a pernoitar no Porto do Maio. Dormiram no chão, dormiram em cima dos sacos. Tudo, porque alguém lhes disse que a partida para Praia estava prevista para às 2h de madrugada. Espero que não venha a ser às 2h da tarde!

Adultos, jovens, crianças, grávidas, idosos... todos abandonados ao relento durante uma noite, à espera da partida do barco. É caso para dizer que os maienses sofrem, e muito! O que será que fizemos noutra encarnação para sermos subjugados a tanto sofrimento? Ontem, era suposto o barco partir às 5 de madrugada com destino ao Maio. Depois de 14 dias à espera desta viajem, muitos eram os passageiros que pretendiam regressar a casa. Madrugaram para estar no Porto da Praia. Madrugaram para depois ficarem horas à espera sem saberem para quando seria a partida. Estiveram cerca de 10 horas expostos ao sol, sem ter o que comer e beber... todos, inclusive crianças. Porquê? Porquê é que tem que ser assim? Não existem alternativas? A população maiense não paga impostos? Será que não damos nenhum contributo para este país? Será que também somos parasitas do Estado?

A minha inteligência não me permite compreender estas situações. Alguém que me ajude, por favor. Sem ajuda, só me resta dizer: Força Djarmai, dias melhores virão!

João Dono
jsdono@gmail.com

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